E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário: por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
Dom Casmurro. (via privatizou)
“Se caso eu desaparecer, me procure, por favor. Me procure até nos lugares em que eu disse que nunca iria. Dê voltas ao mundo, e não só ao redor de si mesmo tentando descobrir onde fui parar. Se for preciso chame a polícia. Chore. Se desespere. Diga que se não me acharem você morrerá. E caso eu não volte, faça-me o favor de amparar minha família. Eles vão precisar muito desse apoio. Se caso eu desaparecer, não se esqueça de arrumar a cama antes de sair de casa. De comer no horário certo e de chorar só mais um pouquinho antes de ir dormir lembrando de mim. Mas acima de tudo, não deixe de continuar a viver. Se caso eu desaparecer, encontre outra pessoa que te faça sorrir, mas que não me substitua. Deixe que esse alguém bagunce seu lençol e te faça arrumar tudo de novo, sem reclamar. Se por acaso o tempo passar e não tiver notícias minhas, não fique procurando o resto dos seus dias. Lembre-se que você ainda tem que realizar todos os nossos sonhos. Você se lembra, né? São dois meninos e uma menina. Uma casa não muito grande, mas que caiba todos juntos. E por favor, não os deixem viciar em comidas de preguiçosos. Aquelas que você tanto odiava quando eu cismava em fazer. Se você se arrepender de não ter me dito algo antes de eu desaparecer, sussurre bem baixinho que eu sempre vou te escutar. Se você se esqueceu de fazer algo que tanto queria fazer comigo, deixe que outra pessoa faça contigo. Deixe ela entrar na sua vida. Te falar coisas lindas. Te mostrar que quer ficar. Mas que nunca ocupe o meu lugar, por favor. Eu deixo você sair para beber. Encher a cara e tentar me esquecer. Eu deixo você dizer o quanto era chato quando eu te ligava mandando você voltar para casa. E logo em seguida sentir falta disso. Eu prometo que aonde quer que eu esteja, não ficarei brava se você decidir amar outro alguém. Prometo de dedinho. Se caso eu desaparecer, jogue fora todas aquelas coisas que podem te fazer lembrar de nós. Mas jogue fora sem dó. Exclua aquele vídeo em que gravamos achando que estávamos tirando foto. Jogue fora todas as suas camisas que um dia eu vesti achando que eram vestidos para mim. Não escute aquelas músicas que eu te obrigava a escutar quando queria te irritar. Elas vão te fazer chorar, tenho certeza. Quando ouvir tocar minha música preferida, escute-a até o final e depois sorria. Não chore, por favor. Lembre-se do meu sorriso e sorria. Sinta o meu perfume e me imagine ao seu lado. Lembre-se das minhas palhaçadas e repita para si mesmo: “Ela era tão chata.” Faça por alguém o que nunca teve coragem de fazer por mim. Não seja orgulhoso. Não brigue a toa. Não minta. Não se omita. Não prometa, faça. E por fim, se alguém perguntar por mim, diga que estou bem aí, dentro de ti. E se em algum momento você pensar em desistir de tudo, lembre-se que ainda tem que me achar. Seja nessa vida ou em outra.“
— Autor desconhecido.